O anarquismo como movimento social e político surgiu no século XIX, no contexto do movimento operário, e desenvolveu uma filosofia política
centrada na defesa de uma sociedade sem Estado.
Para os anarquistas, o Estado é fonte da opressão humana e instrumento de dominação.
Se o Estado existe para
resolver os conflitos entre os indivíduos, ele não
é necessário em uma sociedade que seja a expressão da igualdade, da liberdade e
da solidariedade.
O
primeiro pensador a desenvolver ideias anarquistas no século XIX foi Proudhon. Em 1840 ele lançou um
pequeno livro com o título O que é a propriedade?, é sua resposta à pergunta do título era simples e
direta:
a propriedade é um roubo. Fazendo a crítica da propriedade privada, Proudhon propunha uma sociedade sem propriedade, uma sociedade comunista.
Antes
de Proudhon definir suas ideias como
anarquistas, essa palavra tinha uma conotação pejorativa. Durante a Revolução
Francesa, certos grupos chamavam seus
adversários de anarquistas, para dizer que não eram
sérios, que eram baderneiros e desordeiros. Proudhon
deu à palavra um sentido positivo, ao afirmar que a anarquia não é desordem, mas a
expressão de uma “ordem natural”, não de uma ordem artificial criada por um grupo segundo seus interesses. Sua
conclusão: “Assim como o homem procura a justiça
na igualdade, a sociedade procura a ordem na anarquia”.
As
ideias de Proudhon foram retomadas e
desenvolvidas por vários filósofos anarquistas.
Um deles foi Mikhail Bakunin, ativo revolucionário que
circulou por vários países europeus atuando em associações de trabalhadores e procurando construir uma revolução que
colocasse fim à exploração capitalista.
O princípio
central da filosofia anarquista é a liberdade individual. Os
anarquistas consideram que os indivíduos são
livres e que a sociedade não pode ser uma limitação dessa liberdade, mas sua
confirmação e aprimoramento.
Por isso, o Estado, instrumento de dominação, é visto como algo a ser
combatido. O conceito anarquista de liberdade, porém, difere daquele elaborado
por Rousseau e por outros filósofos que
podem ser chamados de “liberais”.
Para Rousseau, o ser humano é livre por
natureza; todos nascem livres, embora a sociedade coloque limites para a
liberdade. Essa ideia de liberdade
individualizada está expressa na frase: “O limite de minha liberdade é a
liberdade do outro”. Para a filosofia anarquista, não faz sentido pensar em
limites para a liberdade. Se a liberdade do outro é um limite para minha
liberdade, então nem ele nem eu somos livres. Os filósofos anarquistas, em
especial Proudhon e Bakunin, elaboraram um
conceito coletivista de liberdade. Para eles, a
liberdade não é um dom natural do indivíduo.
Ninguém nasce livre; nós nos tornamos livres. Aprendemos
a ser livres e precisamos conquistar a liberdade. E isso só pode ser feito nas relações sociais. Só posso ser livre em
meio a outros seres humanos, junto com outros
iguais a mim. Não haveria sentido falar em liberdade se eu vivesse isolado em
uma ilha deserta. Só posso ser livre se, vivendo
em meio a outras pessoas, suas liberdades confirmam minha liberdade, assim como minha liberdade confirma as
delas.
“[...] Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos
que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro,
longe de ser um limite ou a negação da minha liberdade, é, ao contrário, sua
condição necessária e sua confirmação [...] Ao contrário, é a escravidão
dos homens que põe uma barreira na minha liberdade, ou, o que é a mesma coisa,
é sua animalidade que é uma negação da minha humanidade [...] Minha
liberdade pessoal assim confirmada pela liberdade de todos se estende ao
infinito.
BAKUNIN, Mikhail. Textos escolhidos. Porto Alegre: L&PM,
1983. p. 32-33.
As relações
sociais não são outra coisa senão um jogo de liberdades. Quando esse jogo significa o domínio de uns sobre outros,
anulam-se as liberdades de todos; e, afirmam os
anarquistas, é isso que historicamente tem sido feito pelos sistemas políticos:
o Estado operando como instrumento de dominação de um grupo sobre o restante da
sociedade. Por isso, as liberdades precisam ser
conquistadas, o que requer a organização política para uma revolução social que
coloque fim ao sistema de exploração, abrindo
espaço para a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária.
A revolução
social, para os anarquistas, deveria imediatamente derrubar o Estado. Sua utilização,
mesmo provisória, como meio para a atuação
partidária, como pensava Marx, significaria necessariamente a manutenção de um sistema de privilégios, de relações de
exploração, de classes sociais. Apenas a
extinção imediata do Estado como aparelho de exploração poderia colocar em
marcha outros tipos de relação, outros jogos de
poder que fossem exercício de liberdade, não de dominação.
GALLO,
Sílvio. Filosofa: experiência do
pensamento: volume único / Sílvio Gallo. – 1. ed. – São Paulo: Scipione, 2013.
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Exercício de Fixação
1. O que é anarquismo?
2. O anarquismo ficou
conhecido como movimento. Que movimento era
esse?
3. Quando surgiu o
anarquismo?
4. O que era o Estado
para os anarquistas?
5. Quem foi o primeiro
pensador a desenvolver ideias anarquistas no século XIX?
6. O que é a
propriedade para Proudhon?
7. Qual era princípio
central da filosofia anarquista?
8. Como os anarquistas
consideram que os indivíduos eram?
9. Segundo o
Rousseau, como deveria ser o humano?
10. Para os anarquistas como se dava as relações sociais?
10. Para os anarquistas como se dava as relações sociais?