quarta-feira, 21 de junho de 2017

O ANARQUISMO: A DEFESA DE UMA SOCIEDADE SEM ESTADO

                    O anarquismo como movimento social e político surgiu no século XIX, no contexto do movimento operário, e desenvolveu uma filosofia política centrada na defesa de uma sociedade sem Estado. Para os anarquistas, o Estado é fonte da opressão humana e instrumento de dominação. Se o Estado existe para resolver os conflitos entre os indivíduos, ele não é necessário em uma sociedade que seja a expressão da igualdade, da liberdade e da solidariedade.
                    O primeiro pensador a desenvolver ideias anarquistas no século XIX foi Proudhon. Em 1840 ele lançou um pequeno livro com o título O que é a propriedade?, é sua resposta à pergunta do título era simples e direta: a propriedade é um roubo. Fazendo a crítica da propriedade privada, Proudhon propunha uma sociedade sem propriedade, uma sociedade comunista.
                    Antes de Proudhon definir suas ideias como anarquistas, essa palavra tinha uma conotação pejorativa. Durante a Revolução Francesa, certos grupos chamavam seus adversários de anarquistas, para dizer que não eram sérios, que eram baderneiros e desordeiros. Proudhon deu à palavra um sentido positivo, ao afirmar que a anarquia não é desordem, mas a expressão de uma “ordem natural”, não de uma ordem artificial criada por um grupo segundo seus interesses. Sua conclusão: “Assim como o homem procura a justiça na igualdade, a sociedade procura a ordem na anarquia”.
                    As ideias de Proudhon foram retomadas e desenvolvidas por vários filósofos anarquistas. Um deles foi Mikhail Bakunin, ativo revolucionário que circulou por vários países europeus atuando em associações de trabalhadores e procurando construir uma revolução que colocasse fim à exploração capitalista.
                    O princípio central da filosofia anarquista é a liberdade individual. Os anarquistas consideram que os indivíduos são livres e que a sociedade não pode ser uma limitação dessa liberdade, mas sua confirmação e aprimoramento. Por isso, o Estado, instrumento de dominação, é visto como algo a ser combatido. O conceito anarquista de liberdade, porém, difere daquele elaborado por Rousseau e por outros filósofos que podem ser chamados de “liberais”.
                    Para Rousseau, o ser humano é livre por natureza; todos nascem livres, embora a sociedade coloque limites para a liberdade. Essa ideia de liberdade individualizada está expressa na frase: “O limite de minha liberdade é a liberdade do outro”. Para a filosofia anarquista, não faz sentido pensar em limites para a liberdade. Se a liberdade do outro é um limite para minha liberdade, então nem ele nem eu somos livres. Os filósofos anarquistas, em especial Proudhon e Bakunin, elaboraram um conceito coletivista de liberdade. Para eles, a liberdade não é um dom natural do indivíduo. Ninguém nasce livre; nós nos tornamos livres. Aprendemos a ser livres e precisamos conquistar a liberdade. E isso só pode ser feito nas relações sociais. Só posso ser livre em meio a outros seres humanos, junto com outros iguais a mim. Não haveria sentido falar em liberdade se eu vivesse isolado em uma ilha deserta. Só posso ser livre se, vivendo em meio a outras pessoas, suas liberdades confirmam minha liberdade, assim como minha liberdade confirma as delas.

“[...] Só sou verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, são igualmente livres. A liberdade do outro, longe de ser um limite ou a negação da minha liberdade, é, ao contrário, sua condição necessária e sua confirmação [...] Ao contrário, é a escravidão dos homens que põe uma barreira na minha liberdade, ou, o que é a mesma coisa, é sua animalidade que é uma negação da minha humanidade [...] Minha liberdade pessoal assim confirmada pela liberdade de todos se estende ao infinito.

BAKUNIN, Mikhail. Textos escolhidos. Porto Alegre: L&PM, 1983. p. 32-33.

                    As relações sociais não são outra coisa senão um jogo de liberdades. Quando esse jogo significa o domínio de uns sobre outros, anulam-se as liberdades de todos; e, afirmam os anarquistas, é isso que historicamente tem sido feito pelos sistemas políticos: o Estado operando como instrumento de dominação de um grupo sobre o restante da sociedade. Por isso, as liberdades precisam ser conquistadas, o que requer a organização política para uma revolução social que coloque fim ao sistema de exploração, abrindo espaço para a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária.
                  A revolução social, para os anarquistas, deveria imediatamente derrubar o Estado. Sua utilização, mesmo provisória, como meio para a atuação partidária, como pensava Marx, significaria necessariamente a manutenção de um sistema de privilégios, de relações de exploração, de classes sociais. Apenas a extinção imediata do Estado como aparelho de exploração poderia colocar em marcha outros tipos de relação, outros jogos de poder que fossem exercício de liberdade, não de dominação.

GALLO, Sílvio. Filosofa: experiência do pensamento: volume único / Sílvio Gallo. – 1. ed. – São Paulo: Scipione, 2013.

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Exercício de Fixação


1. O que é anarquismo?
2. O anarquismo ficou conhecido como movimento. Que movimento era esse?
3. Quando surgiu o anarquismo?
4. O que era o Estado para os anarquistas? 
5. Quem foi o primeiro pensador a desenvolver ideias anarquistas no século XIX?
6. O que é a propriedade para Proudhon?
7. Qual era princípio central da filosofia anarquista?
8. Como os anarquistas consideram que os indivíduos eram?
9. Segundo o Rousseau, como deveria ser o humano?
10. Para os anarquistas como se dava as relações sociais?

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