O QUE ENSINAR
EM LÍNGUA PORTUGUESA
Beatriz
Santomauro
bsantomauro@fvc.org.br
Revista Nova Escola
O ENSINO ATUAL DA DISCIPLINA FOCA A PRÁTICA NO
DIA A DIA E MESCLA ATIVIDADES DE FALA, LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS DESDE CEDO.
Até os anos 1970, o processo de aprendizagem da Língua
Portuguesa era comparado a um foguete em dois estágios, como bem pontuam os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). O primeiro ia até a criança ser
alfabetizada, aprendendo o sistema de escrita. Já o seguinte começaria quando
ela tivesse o domínio básico dessa habilidade e seria convidada a produzir
textos, notar as normas gramaticais e ler produções clássicas.
PRODUÇÃO E REFLEXÃO (à esq.) Nas situações práticas da análise e construção
de textos, os estudantes sistematizam regras.
LEITURA DIÁRIA (à dir.) Ao ler gêneros e
autores diversos, a turma passa a reconhecer as características das obras
A partir dos anos 1980, o ensino não é mais visto como
uma sucessão de etapas, e sim um processo contínuo. "O aluno precisa
entrar em contato com dificuldades progressivas do conteúdo. Desse modo,
desenvolve competências e habilidades diferentes ao longo dos anos", diz
Maria Teresa Tedesco, professora do Colégio de Aplicação da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
As situações didáticas essenciais para o Ensino Fundamental passaram a ser: ler e ouvir a leitura do docente, escrever, produzir textos oralmente para um educador escriba (quando o aluno ainda não compreende o sistema) e fazer atividades para desenvolver a linguagem oral, além de enfrentar situações de análise e reflexão sobre a língua e a sistematização de suas características e normas.
As situações didáticas essenciais para o Ensino Fundamental passaram a ser: ler e ouvir a leitura do docente, escrever, produzir textos oralmente para um educador escriba (quando o aluno ainda não compreende o sistema) e fazer atividades para desenvolver a linguagem oral, além de enfrentar situações de análise e reflexão sobre a língua e a sistematização de suas características e normas.
Essa nova concepção apresentava inúmeras diferenças em relação a perspectivas
anteriores. Desde o século 19 até meados do 20, a linguagem era tida como uma
expressão do pensamento. Ler e escrever bem eram uma consequência do pensar e
as propostas dos professores se baseavam na discussão sobre as características
descritivas e normativas da língua. "O objeto de ensino não precisava ser
a linguagem", explica Kátia Lomba Bräkling, coautora dos PCNs e professora
do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em São Paulo. Os primeiros anos da disciplina deveriam garantir a
aprendizagem da escrita, considerada um código de transcrição da fala. Dois
tipos de método de alfabetização reinaram por anos: os sintéticos e os
analíticos. Os primeiros começavam da parte e iam para o todo, mostrando
pequenas partes das palavras, como as letras e as sílabas, para, então, formar
sentenças. Compõem o grupo os métodos alfabético, fônico e silábico.
Já os analíticos propunham começar no sentido oposto, o
que garantiria uma visão mais ampliada do aluno sobre aquilo que estava no
papel, facilitando o seu entendimento. Pelo modelo, o ensino partia das frases
e palavras, decompostas em sílabas ou letras. "Nesses métodos, o essencial
era o treinamento da capacidade de identificar, suprimir, agregar ou comparar
fonemas. Feito isso, estaria formado um leitor", explica Maria do Rosário
Longo Mortatti, coordenadora do grupo de pesquisa em História do Ensino de
Língua e Literatura no Brasil, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no
campus de Marília.
Aqueles que já dominavam essa primeira etapa de aprendizagem passavam para a
seguinte. Na escrita, os alunos deveriam reproduzir modelos de textos
consagrados da literatura e caprichar no desenho do formato das letras. Para
fazer uma leitura de qualidade, o estudante tinha como tarefa compreender o que
o autor quis dizer - sem interpretar ou encontrar outros sentidos.
As aulas focavam os aspectos normativos e descritivos da
língua e textos não literários - como o acadêmico e o jornalístico - não eram
estudados. "O coloquial ou informal eram considerados inadequados para ser
trabalhados em sala de aula", explica Egon de Oliveira Rangel, professor
do Departamento de Linguística da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
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