sábado, 28 de junho de 2014

VIVA O ENEM

Cláudia Schiedeck Soares de Souza*

A nova proposta do Ministério da Educação sobre a utilização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como forma unificada de ingresso às universidades repercute de forma bastante provocativa na sociedade brasileira. Talvez esse seja o primeiro mérito da proposta: colocar em discussão o acesso às Universidades Federais e, agora, também aos Institutos Federais. O novo Enem se apresenta e as pessoas começam a discutir, se mobilizar, se posicionar e questionar.

O cerne da proposta está na possibilidade de atingir um número maior de alunos e também facilitar o acesso às universidades públicas. Estamos falando em inclusão. Trabalhar com alunos que possuem todo o conhecimento é muito fácil. Por isso, muitos alunos que ingressam nas universidades públicas são oriundos de escolas privadas ou de cursinhos pré-vestibulares. O mais difícil é oferecer conhecimento àqueles que realmente não o tem. Esse deveria ser o papel de tais universidades. É claro que se pode entender que algumas delas, renomadas que são, tenham resistência à mudança, pois toda mudança desacomoda e nos confronta com o que estamos fazendo ao longo de anos.

Quem pode afirmar que os vestibulares tradicionais avaliam realmente o conhecimento dos nossos egressos do ensino médio? Existem dados confiáveis sobre isso? O vestibular é um teste padronizado, cujas questões, em muitos casos, estão longe de avaliar a real capacidade do aluno de resolver problemas. E ainda vou mais longe, acaba pautando o ensino. Como professores, somos obrigados a trabalhar com conteúdos e informações específicas que caem nas Universidades X e Y. Treinamos alunos para resolver questões objetivas e não para desenvolver raciocínio lógico.

Trabalhamos com informações, mas não fazemos nossos alunos produzirem conhecimento, o que é muito distinto. O novo Enem traz as duas coisas: a cobrança das informações, essencial, e uma nova formatação. Não se cobrará somente uma fórmula, mas o que esse aluno pode fazer com ela. Exemplo: um adolescente pode ler um mapa geográfico, perceber que ele é do Rio Grande do Sul, verificar onde estão os rios e os vales do estado. Contudo, se colocarmos como problema que ele encontre o caminho mais curto entre cidades do norte e do sul, provavelmente ele não conseguirá resolver, pois terá dificuldades em aplicar a informação e transformá-la em conhecimento.

O novo Enem não desmerece os profissionais que sempre se dedicaram à formulação de questões para os vestibulares. Muito pelo contrário: valoriza a profissão de professor que é a origem de todos eles, pois antes de serem formuladores de provas, eles são professores.

Nosso país carece de alunos com mais consistência e conhecimento. Não é o vestibular que deve trazer essa concepção, mas as licenciaturas que formam nossos professores. Antes de pensar nos vestibulares a academia precisa formar professores de qualidade. Se vestibular resolvesse essa questão, não teríamos avaliações tão baixas em exames internacionais. Portanto, viva o Enem, com sua nova concepção e com sua excelência.

*Reitora do Instituto Federal do Rio Grande do Sul

Fonte:http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/enemclaudia_140709.pdf 

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