Cláudia Schiedeck Soares de Souza*
A nova proposta
do Ministério da Educação sobre a utilização do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) como forma unificada de ingresso às universidades repercute de forma
bastante provocativa na sociedade brasileira. Talvez esse seja o primeiro mérito
da proposta: colocar em discussão o acesso às Universidades Federais e, agora,
também aos Institutos Federais. O novo Enem se apresenta e as pessoas começam a
discutir, se mobilizar, se posicionar e questionar.
O cerne da
proposta está na possibilidade de atingir um número maior de alunos e também
facilitar o acesso às universidades públicas. Estamos falando em inclusão.
Trabalhar com alunos que possuem todo o conhecimento é muito fácil. Por isso,
muitos alunos que ingressam nas universidades públicas são oriundos de escolas
privadas ou de cursinhos pré-vestibulares. O mais difícil é oferecer
conhecimento àqueles que realmente não o tem. Esse deveria ser o papel de tais
universidades. É claro que se pode entender que algumas delas, renomadas que
são, tenham resistência à mudança, pois toda mudança desacomoda e nos confronta
com o que estamos fazendo ao longo de anos.
Quem pode
afirmar que os vestibulares tradicionais avaliam realmente o conhecimento dos
nossos egressos do ensino médio? Existem dados confiáveis sobre isso? O
vestibular é um teste padronizado, cujas questões, em muitos casos, estão longe
de avaliar a real capacidade do aluno de resolver problemas. E ainda vou mais
longe, acaba pautando o ensino. Como professores, somos obrigados a trabalhar
com conteúdos e informações específicas que caem nas Universidades X e Y.
Treinamos alunos para resolver questões objetivas e não para desenvolver
raciocínio lógico.
Trabalhamos com
informações, mas não fazemos nossos alunos produzirem conhecimento, o que é
muito distinto. O novo Enem traz as duas coisas: a cobrança das informações,
essencial, e uma nova formatação. Não se cobrará somente uma fórmula, mas o que
esse aluno pode fazer com ela. Exemplo: um adolescente pode ler um mapa geográfico,
perceber que ele é do Rio Grande do Sul, verificar onde estão os rios e os
vales do estado. Contudo, se colocarmos como problema que ele encontre o
caminho mais curto entre cidades do norte e do sul, provavelmente ele não
conseguirá resolver, pois terá dificuldades em aplicar a informação e transformá-la
em conhecimento.
O novo Enem não
desmerece os profissionais que sempre se dedicaram à formulação de questões
para os vestibulares. Muito pelo contrário: valoriza a profissão de professor
que é a origem de todos eles, pois antes de serem formuladores de provas, eles
são professores.
Nosso país
carece de alunos com mais consistência e conhecimento. Não é o vestibular que
deve trazer essa concepção, mas as licenciaturas que formam nossos professores.
Antes de pensar nos vestibulares a academia precisa formar professores de
qualidade. Se vestibular resolvesse essa questão, não teríamos avaliações tão baixas
em exames internacionais. Portanto, viva o Enem, com sua nova concepção e com
sua excelência.
*Reitora do
Instituto Federal do Rio Grande do Sul
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